LAGOA GRANDE: ONTEM E HOJE

Lagoa Grande, comunidade rural pequena e aconchegante, localizada (em sua maior extensão)à margem esquerda do Rio Guaribas, tendo ainda algumas residências e o grupo escolar Francisco Odorico Borges à margem direita . Seu relevo apresenta uma pequena planície que acompanha o percurso do rio, além de pequenos planaltos e morros. É entrecortada  pelo riacho ,cujo suas águas são oriundas dos baixões e terras  pertencentes ao Curral Velho e Bodocó, descem pelo Saco da Lagoa (terras pertencentes aos herdeiros de Joaquim Brejo), chegando à parte baixa da Lagoa Grande, onde ganha uma denominação local “Riacho de Chico Brejo”, talvez por aproximar-se tanto da casa daquele que lhe emprestou o nome, desaguando logo depois no Rio Guaribas.

Geograficamente, nossa comunidade tem 70% de seu casario nessa estreita faixa de terras compreendida entre o Rio Guaribas  e o riacho de Chico Brejo.

Descrever geograficamente a nossa humilde e amada localidade talvez seja fácil para um geógrafo, ou para um topógrafo, sendo que os mesmos conhecem os termos técnicos, mas para  um leigo a tarefa certamente requer muito cuidado, porém a pretensão não é fazer uma descrição técnica e objetiva da terra que nos viu nascer, mas  a ambição é outra: procurar fazer  um mapeamento histórico residencial deste local tão querido antes que os vestígios se acabem ou nossa memória comece a falhar.

No início de 2011(07-02) assistimos entristecidos ao fechamento de mais uma residência na Lagoa Grande,  foi a vez da antiga residência do Velho Louzinho, uma casa grande com uma das melhores vistas panorâmicas  que se tem da Lagoa Grande, pois,  de sua calçada, é possível visualizar  o Morro Grande, o abraço magnífico do riacho de Chico Brejo com o Rio Guaribas e a barragem, sem falar  de toda a parte baixa e alta de nossa comunidade e seus arredores. Porém, o que de melhor deve-se ressaltar daquela casa não resume-se à sua localização, vai muito além disso, são os momentos vividos em seu ambiente interno. Quantas horas  agradáveis  passou-se lá , desde reuniões familiares a cultos religiosos , brincadeiras infantis  e bailes à moda antiga com botequim no terreiro, o povo dançando à luz de vela, tomando um cafezinho quente e amargo  para despertar o sono, pois o sanfoneiro tacava até o sol raiar.

Na década de 80 uma das primeiras casa da Lagoa Grande em que vi encerrar  suas atividades  foi a de Chico Brejo –uma casinha simples, assim como ele, e ao mesmo tempo acolhedora, pois tanto o proprietário como a Nega (Maria Corró) sua segunda esposa atraiam visitantes. Ele, pelo seu carisma, humor nato e irreverente; ela, pela  ingenuidade. O lar deste casal tinha um que de especial; talvez por sua localização ser estratégica, à beira da estrada e tão próxima do  rio ou,  realmente, o que a tornou tão  especial foi a maneira como o casal recebia seus amigos, pois naquele humilde casebre não faltava água fria no pote e café quente no bule ou na marmita, além  dos umbus, tamarindos e atas (fruta do conde) que a Nega sempre guardava para agradar os que ali passavam.

Um pouco depois  foi a vez da casa de Curral (Luís Epifânio de Macedo). Uma das construções de alvenaria mais antigas desta localidade (o primeiro dono foi Firmino Borges e Minervina). Desta não tenho  muitas recordações, pois não fazia  parte de nenhum percurso meu; mesmo assim estive  lá algumas vezes sempre em momentos de descontração. Lembro de um baile (forró  pé-de-serra) promovido por José Diva Barros, filho do proprietário. Curral também incentivava  muito o lazer, uma vez que disponibilizou próximo à sua casa espaço para um campo de futebol – o campo de Curral- onde durante muito tempo foi  local dos esportistas de nossa terra.

Na mesma década,  trancam-se as portas da casa de  Tia Dona e Velho Doutor (Alcides). Essa mulher tinha uma maneira muito própria de expressar-se, espontânea; contudo muito agradável. A sua residência foi um local de muita prosperidade, pois tinha  um aviamento (casa de farinha) e funcionou durante anos. Um pouco antes de sua demolição ainda resistia ao tempo, o forno e alguns equipamentos desmontados (da casa de farinha), como por exemplo a roda (engrenagem antiga que foi substituída pelo motor).

É lamentável também o fechamento, e sobretudo a demolição, da casa de João de Holanda e Conceição. Assim como a moradia do Velho Doutor, esta  foi muito próspera, pois em suas dependências realizaram-se por muito tempo as tradicionais farinhadas  que eram uma espécie de cultura e uma maneira de beneficiamento da mandioca produzida pela comunidade local. Porém, lastima-se pelo não funcionamento da casa de farinha. É lastimoso, acima de tudo, pelo que realmente marcou aquele lar, pois não foi somente o trabalho braçal, mas principalmente as manifestações e acontecimentos religiosos  como os cultos dominicais, procissões, vias-sacras e tantos outros momentos de fé e devoção que realizou-se naquele contexto residencial .

Daquele  mesmo local relembro a primeira missa celebrada na Lagoa Grande; a mesma foi pela manhã. O padre ficou na parte mais alta da calçada  e a assembleia  no terreiro, onde havia um enorme lajeiro limpinho. Outra celebração eucarística foi à tardinha, na primeira sala  e quando terminou já estava escurecendo. Tudo isso ficou marcado na história da nossa gente, o povo  lagoagrandense.

Antonio Valdemar

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