Antônio Valdemar de Carvalho

 

 

A iminência da festa de Nossa Senhora da Conceição é sentida nos corações bocainenses, aqui e por todo o Brasil afora, com afeto e amor intensos. Estes sentimentos produzem, em nós, forças que acionam a máquina do tempo no sentido anti-horário, trazendo lembranças de tempos idos que nos proporcionaram alegrias verdadeiras. E hoje, esse movimento inverso do relógio temporal nos fez sentir um misto de alegrias, tristezas, saudades   São crônicas que saltam de um  passado bom, agradável  e imergem no presente difícil (2020 contexto pandêmico). Sem dúvida, a situação contextual de saúde mundial causou muitos transtornos para a humanidade, em todos os seus segmentos da vida social; isso é fato. Mas nesse momento me nego a argumentar e discorrer sobre esse tema. Prefiro recorrer a um velho clichê: “vamos virar essa página!”.

Virando a página!”

Bocaina, 29 de novembro, 4:30 da manhã, ao repicar do sino da Matriz na Praça Borges Marinho… Essa referência de localização, data e horário é muito significativa para quem um dia bebeu água do velho Rio Guaribas e/ou adentrou na lendária Capela construída na Fazenda Boqueirão há mais de dois séculos  e meio. Certamente, a cada ano esse amanhecer festivo agrega novos sentidos aos participantes (presenciais ou remotos). Em 2020,  não foi diferente, ou talvez tenha sido tudo diferente, pela necessidade de protocolos de segurança, orientados pela OMS. Mas aconteceu. Somos gratos ao Pai por nos permitir vivenciar a alvorada festiva que é parte de nossa história, de nossas vidas. É certo que este ano tivemos um novo olhar, uma nova leitura. O que antes era simples e natural, hoje ganhou  importância e emoção.

Assim como os sentimentos pessoais são movidas pela aproximação da festa da Imaculada Conceição, em Bocaina, parece também que a mãe natureza sabe e reconhece a grandiosidade do acontecimento. Será que a proximidade da festa é sentida apenas nos corações humanos? Mesmo que essa resposta seja afirmativa, alguns fenômenos corroboram para nos levar a formar uma opinião contrária.

Todos os anos, desde cedo, percebemos e associamos o anúncio da festa através dos fenômenos naturais. São as primeiras chuvas no sertão semiárido; nossas matas nativas ficam multicores. Parece que nosso bioma tenciona afirmar e comprovar que, mesmo depois de longo período de estiagem e agressões, continua vivo e colaborando com o nosso bem-estar. Este ano não foi diferente; retifico, foi diferenciado. A natureza caprichou no  cenário e no clima, chapiscando cores nos horizontes bocainenses. Ela revestiu-se, predominantemente, do verde da esperança. O céu estava esplêndido, assemelhava-se ao trabalho delicado e minucioso das rendeiras. Encontrava-se rebordado de nuvens esbranquiçadas… Magnífico!  O seu encontro, ao longe, com nossos morros e serras estava perfeito, digno da mais bela e trabalhada moldura. Tamanha perfeição só poderia ter sido a mão do grande arquiteto do universo. Ele rabiscou, desenhou e coloriu tudo com uma perfeição inigualável. E o vento, vindo da planície que acompanha o percurso do rio, soprava lento, frio e agradável, participando ativamente de tudo isso; fazendo virar, vagarosamente, páginas e páginas do livro da memória; trazendo um enredo nostálgico e bom. Parece que, lá do alto, o autor da criação implorava que o coral entoasse: “Quando pulcra rompe a aurora em seus primores…  Hoje em raios de alvorada alvissareira… Lá nas serras onde os ventos rumorejam… Lá nos bosques onde canta o coração…”.  Parece que o grupo de canto entendeu a mensagem de Deus e ouviu a voz do coração dos devotos, executando o hino. Foi  emocionante e as lágrimas desciam em fio dos olhos dos devotos e devotas de Nossa Senhora da Conceição.

Fica uma certeza: na Alvorada de 2020 tivemos um número reduzido de fiéis (presenciais) mas, como foi sonhada e esperada por todos, somente a sua realização já nos causaria grande comoção.  E de fato causou.

 

 

 

 

 

 

 

NOVENA -29/11/2020

 

 

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